Pequenas Mortes Cotidianas

Livro de contos de Paula Giannini

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“Narrativas caleidoscópicas, vertiginosas e concisas, explorando os múltiplos dramas cotidianos, numa espécie de fluxo de consciência contínuo, como se o leitor acompanhasse de perto as personagens. O estilo telegráfico e os cortes bruscos dão ao texto um ritmo ágil e cativante”.

(Casa das Rosas)

São poucos os títulos que sintetizam tão bem o conteúdo de um livro como este que o leitor tem nas mãos. Pequenas mortes cotidianas, a mais recente coletânea de contos de Paula Giannini, trata justamente do que anuncia: das mortes com as quais lidamos ao longo de uma vida. Não apenas daquelas ligadas à perda de amigos, conhecidos ou familiares, mas ainda das que se dão em consequência de escolhas que fazemos a todo momento, como a narradora de “Déjà Vu” tão bem explicita: “Ninguém estava completamente feliz com suas escolhas. Nunca. Cada opção significava, inexoravelmente, a imediata morte de todas as outras. Sempre”. E não só. Para além dessas perdas, Paula Giannini, em seu livro, aborda fundamentalmente aquelas pequenas mortes quase imperceptíveis, porque difíceis de detectar onde e quando começam, e que, em alguma medida, abalam nossa estrutura e se inscrevem no corpo como as marcas de um sismógrafo. “Algo parecia deteriorar em si com a velocidade de um piscar”, afirma a narradora de “Quase”.

Pequenas mortes cotidianas é também, portanto, uma reflexão sobre a passagem do tempo e o modo como esta se revela em nós e para nós. Diz ainda a narradora de “Quase”: “Já não sabia quem era. E reconhecer o mundo à sua volta, aos poucos, se tornava igualmente custoso. Até o olhar parecia ter-se modificado. As lentes com as quais se via já não eram as mesmas através das quais enxergava o mundo”. E a saída não está em tentar mascarar a morte, que, como todos sabemos, é inevitável, mas, pelo contrário, encará-la de frente, sem medo e com vistas a uma possível redenção, como sugere a frase que se repete em dois contos diferentes do livro, tal qual um refrão: “É preciso morrer para renascer”.

(Verônica Stigger)